Galeno (130 a 199 d.C), conseguiu por meio de exercícios de tronco e dos pulmões, corrigir o tórax de um rapaz até alcançar condições normais.
Pode-se observar que na antiguidade a utilização dos movimentos do corpo eram apenas para o tratamento de uma doença já instalada visível e incômoda, o que se pretendia era apenas curar o indivíduo. Havia uma ausência de estudos ou aplicações nas quais o interesse fosse voltado para evitar a ocorrência de morbidades. Embora, na Grécia vigorasse a concepção mens sanna in corpore sanno, essa preocupação parece não ter influído significativamente no desenvolvimento das ações relativas ao cuidado com o corpo.
Enfim, a Antiguidade é caracterizada por ações de saúde curativas, onde a promoção da saúde e a prevenção não parecem ter sido alvo dos estudiosos que se dedicavam ao cuidado da saúde das populações antigas.
2- Na Idade Média, as doenças eram tidas como algo que deveria ser exorcizado
Na Idade Média ( período aproximadamente compreendido entre os séculos IV e XV), a sociedade era organizada sob uma concepção de organização providencial, uma ordem social estabelecida no plano divino.
Os homens organizavam-se hierarquicamente em clero, nobreza e camadas populares, cabendo a cada grupo uma função específica, estabelecida pela ordem divina.
O camponês, devido esta ordem, deveria trabalhar, a nobreza deveria guerrear e ao clero o serviço divino.
A fé é dita nesta época como uma obrigação elementar do homem. Isto dava ao clero o poder de determinar quais caminhos poderiam ou deveriam ser seguidos pela sociedade.
Como decorrência os fenômenos naturais eram causados por interferência, decisão ou atuação divina ou, no caso de eventos negativos, demoníaca.
As relações de produção da época determinavam um tipo de relação comportamental que não propiciava a maioria das pessoas, qualquer acesso a melhores condições de educação, saúde e conforto.
A Idade Média foi uma época em que ocorreu uma interrupção no avanço dos estudos e da atuação na área da saúde. A interrupção desses estudos pode ter tido dois aspectos principais: primeiro: o corpo ser considerado algo “inferior” e, o segundo, foi relativo às camadas mais privilegiadas (a nobreza e o clero) começarem a ter interesse por uma atividade física dirigida para um objeto determinado (aumento da potência física).
O primeiro aspecto surgiu em decorrência da influência da religião e dos conceitos religiosos da época, que valorizavam a alma e o espírito. O corpo era apenas um recipiente daqueles, e o que acontecia com o corpo era causado pelo que acontecia com o que estava dentro dele.
Os hospitais da Idade Média tinham caráter eclesiástico, estavam junto dos mosteiros, havia até altares nas salas dos enfermos, não havendo local apropriado para a realização de exercícios. O interesse pelos estudos ou aplicações dos cuidados com o corpo ficavam relegados a um plano secundário.
A atividade física nesta época não apresentava o caráter curativo como na Antiguidade, pelo próprio sistema de produção característico da Idade Média, a atividade física era utilizada pelos mais favorecidos como clero e nobreza para ganho de potência física, afinal, eram responsáveis pelo controle da população, pelos bens e pela guerra, como decorrência era necessária uma força física para isso.Enquanto que para os burgueses e lavradores a atividade física servia unicamente como diversão, afinal, estes eram privados dos bens e do conforto, e o exercício físico era o único meio barato pra distrair-se.
3- Renascimento: A volta da preocupação com o corpo saudável
No Renascimento ( período entre o séc. XV e XVI), por meio do movimento artístico e literário iniciado na Itália e depois difundido pela Europa, aconteceu, em toda parte, um crescimento da arquitetura, da escultura, da pintura, das artes decorativas, da literatura, da música e de um novo enfoque para a política.
A beleza física do homem e da mulher começa a ser valorizada, ao mesmo tempo em que os rígidos valores morais estabelecidos na Idade Média sofrem uma decadência.
As universidades surgiam e eram nelas que as pessoas iam buscar compreensão do mundo e conhecimentos. Na literatura e nas artes avançava o naturalismo.
O humanismo e a artes se desenvolvendo permitiram, paralelamente, a retomada dos estudos relativos ao cuidado com o corpo e a revitalização do culto físico. Neste período a “ginástica médica” compreendia:
1- Exercícios para conservar um estado saudável já existente,
2- Regularidade nos exercícios,
3- Exercícios para indivíduos enfermos cujo estado pode exacerbar-se,
4- Exercícios individuais especiais para convalescentes,
5- Exercícios para pessoas com ocupações sedentárias.
Pode ser notado nesse período que, após a estagnação dos estudos relativos ao bem estar físico do homem durante a Idade Média, ocorreu, durante o renascimento uma retomada desses mesmos estudos, nos quais a preocupação e a atividade não parecem dirigidas somente ao “ tratamento” ou aos cuidados com o “organismo lesado “. Apresentam também uma preocupação com a manutenção das condições normais já existentes em organismos considerados sãos.
Neste período, devido a preocupação não apenas com o tratamento ma com a promoção e a prevenção de doenças, as ações de saúde passam a ter uma característica preventiva. Novas direções de estudo, reflexão e trabalho em relação á assistência á saúde, nascidas no movimento renascentista, mereceu a atenção dos profissionais e estudiosos das épocas seguintes.
3.1-Fim do Renascimento: A saúde corporal começa a especializar-se.
Na fase de transição entre o Renascimento e a Industrialização, diversos autores desenvolveram trabalhos relativos ao exercício físico que influenciaram as formas de aplicação desse instrumento no muno ocidental.
Don Francisco y Ondeano Amorós (1779-1849), dividiu a ginástica em quatro pontos, o terceiro era a cinesioterapia, e sua finalidade assinalava: manutenção de uma saúde forte, tratamento de enfermidades, reeducação de convalescentes e correção de deformidades.
Em 1864, surgiram proposições de uma divisão na aplicação e, consequentemente, nos estudos que tratassem da saúde humana,
diferenciando o tratamento de enfermos dos exercícios de ginástica para pessoas sãs.
“ Os enfermos e aqueles cuja coluna vertebral sofre deformidades ou alterações posturais de ombros e cadeiras, correspondem ás salas de cura e não ás lições de ginástica para sãos.”
De certa forma, começou a haver (ainda que de maneira indireta) uma divisão profissional no sentido de diferenciar as ações profissionais conforme o estado de saúde da população a ser atendida.
É importante salientar que essa concepção parece ter contribuído para que o objeto de trabalho da fisioterapia (que começava a se delinear como profissão) ficasse restrito ao atendimento de indivíduos já lesados, já acometidos por algum tipo de doença.
4- Na industrialização volta o interesse pelas “doenças”, com atividades “especializadas” para seu “tratamento”
A industrialização, período historicamente compreendido pelos séculos XVIII e XIX e iniciando na Inglaterra, caracterizou uma época de transformação social determinada pela produção em grande escala, mediante a utilização crescente de máquinas.
A produção camponesa, despojada das terras, aglomerava-se crescentemente ao redor das cidades. Os estudos em sua grande maioria, voltaram-se, inicialmente, para a elaboração e o aperfeiçoamento de máquinas que otimizassem o sistema de produção nas atividades industriais e, mais tarde, também para “ consertar” os problemas de variadas naturezas que a própria industrialização acarretava.
As novas concepções de utilizações das diversas formas de cuidado com o corpo, que haviam começado a surgir no Renascimento, sofreram, em seguida, alterações significativas com o advento da Revolução Industrial. As classes sociais dominantes, voltando a atenção para o sistema produtivo e as atividades lucrativas obtidas por meio do trabalho de uma população operária submetida a estafantes jornadas de trabalho (bem como a condições sanitárias precárias e a condições alimentares insatisfatórias), provocaram o aparecimento e a proliferação de novas doenças. As epidemias de cólera e tuberculose pulmonar, o alcoolismo, os acidentes de trabalho, a utilização do
trabalho das crianças e as jornadas de trabalho de 16 horas por dia exigiram da medicina um desenvolvimento de trabalhos de intervenção e de estudo com as patologias que proliferavam.
O abuso da exploração até os limites das possibilidades de vida dos operários e camponeses fazia explodir as “patologias” que, desconhecidas naquelas dimensões, impressionavam. As explicações e “teorias” que predominavam – e convinham às classes dominantes – não indicavam os determinantes das “patologias” no ambiente físico ou social ( no sistema econômico e social ou no regime político, por exemplo) e, sim, no próprio “individuo doente”. Esse tipo de explicação era conveniente às classes dominantes, assim como convinha “tratar” essas patologias para não perder ou diminuir a sua fonte de riqueza e bem-estar, gerados pela força de trabalho das classes de poder econômico mais baixo (e socialmente dominadas). Sem dúvida, não interessava as condições em que vivessem. Bastava “trata-los” quando suas condições prejudicassem a produção de riquezas ou incomodassem à classe dominante.
Nesse contexto, eram convenientes as explicações da doença baseada na “unicausalidade” das patologias, onde as explicações para tal fato estava na descoberta de bactérias e vírus. Não levavam em considerção as condições de vida da população, trabalho, habitação, higiene ambiental, instrução, alimentação, repouso, etc.
As atividades profissionais ou áreas de estudo, que de alguma forma se preocupavam com as condições de saúde do homem, nessa época, parecem ter encontrado seus esforços na descoberta de novos métodos de tratamento das doenças e suas seqüelas.
Dessa forma, a clínica, a cirurgia, a farmacologia, a aplicação de recursos elétricos, térmicos e hídricos e a aplicação de exercícios físicos etc. sofreram uma evolução dirigida para o atendimento do indivíduo doente.
Surgia a idéia do atendimento hospitalar. Com essa ênfase no tratamento, os outros caminhos que haviam sido plantados no movimento renascentista, como a manutenção de uma condição satisfatória de saúde já existente e a prevenção de doenças, parecem ter sofrido uma inibição no período do surgimento e desenvolvimento da industrialização.A predominância de uma assistência “curativa, recuperativa e reabilitadora” é marcante durante esse período.
No século XIX, as especializações começaram a surgir num grau mais elaborado, As especialidades reconhecidas a mais tempo ( cirurgia, obstetrícia), juntam-se no século XIX e as disciplinas novas se separam do tronco comum. A medicina subdivide-se e o especialista faz sua aparição. Surgem, de forma organizada e mais definida, a dermatologia, a pediatria, seguidas da psiquiatria, da oftalmologia e da otorrinolaringologia.
O corpo de conhecimentos ou as formas de trabalho que viriam caracterizar a Fisioterapia parecem ter seguido a mesma direção das especialidades médicas, no sentido de compartimentalizar áreas de estudo e campos de atuação profissional.
O exercício físico e as outras maneiras de atuar que caracterizam a Fisioterapia, segundo esse caminho, no início do século XX, são desenvolvidos com uma preocupação voltada para o tratamento de pessoas acometidas de patologias, constituindo uma nova área de estudo e novo ramo de trabalho.
Durante a guerra, formaram-se escolas de cinesioterapia, sempre a partir de clínicas universitárias ortopédicas, em Heidelberg, Colônia, e Muster. Dessa forma, na atualidade, a Fisioterapia só é ensinada em clínicas, e em sua maioria em clínicas universitárias.
Além disso as guerras com suas conseqüências ( lesões, mutilações, alterações físicas de vários tipos e graus) produziram também um grande contingente de pessoas que precisavam de tratamento para recuperar-se ou reabilitar-se e readquirir um mínimo de condições para voltar a uma atividade social integrada e produtiva.
As especializações de tratamento foram convenientes ao sistema na época. Não parecia importar por que surgia a patologia, ou a relevância da remoção ou do controle de seus determinantes.
O que mais interessava era que ela não impedisse o indivíduo de produzir ou que não o fizesse ser um incômodo ou prejuízo para a sociedade, As especializações de trabalho, nesse sentido, surgiram com maior facilidade, rapidez e quantidade porque não interessava a percepção global dos problemas, incluindo sua rede de determinantes, mas sim apenas as técnicas diretas e mais efetivas de concerto ou reabilitação para o indivíduo voltar a uma atividade social integrada e produtiva. É óbvio que tudo isso produziu decorrências e avanços tecnológicos para muitos campos de atividades, aumentando as possibilidades de benefício dessas atividades.
5- A Fisioterapia no final do século XX
Os tipos de preocupação que geraram estudos e propiciaram exames, reflexões e formas de trabalho foram diferentes a cada época como decorrência das próprias circunstâncias predominantes em cada período da história.
Vale ressaltar que nos diferentes momentos da história, a influência das relações de produção existentes na sociedade sobre o direcionamento das “ações de saúde” em cada época. Na medida em que essas relações de produção propiciam maior acesso das pessoas a melhores condições de vida, os tipos de assistência fornecidos aos indivíduos se alteram significativamente.
Partindo do presuposto da não perturbação do sistema social vigente e predominante, o desenvolvimento das profissões no campo da saúde, por muitas vezes parece ter sido orientado a trilhar caminhos sem mesmo levar em conta os conhecimentos científicos já produzidos e disponíveis. Como exemplo disso, vale notar que, muito embora as teorias da unicausalidade das doenças tenham sido superadas e,na década de 60, já estivesse desenvolvido o conceito de multicausalidade desses fenômenos, os fatores mais enfaticamente abordados foram aqueles que possuíam menor probabilidade de sugerir alterações que comprometessem o sistema social, independentemente de seu potencial de determinação nas condições da saúde da população.
A atuação profissional em saúde e a formação de novos profissionais nesse campo continuaram baseadas nos conceitos biológicos da determinação das doenças e na intervenção profissional voltada para a eliminação dos fatores individuais ou de pequenos grupos.nesse contexto os problemas de saúde de uma população são considerados como se fossem a somatória dos problemas individuais dos componentes dessa população.
A Fisioterapia fazendo parte da chamada “área da saúde”, sofreu essas mesmas oscilações no decorrer da história. Teve seus recursos e suas diversas formas de atuação voltados quase que exclusivamente para o atendimento do indivíduo doente. A assistência á saúde, apesar do conhecimento e da tecnologia já disponíveis no limiar do século XXI, é feita quando se encontra em seus piores níveis, para reabilitar ou recuperar condições que o organismo perdeu.